sábado, 4 de abril de 2009

Tenho a impressão de estar escrevendo há milênios um artigo que devo entregar sei lá quando, acho que em junho tem que estar tudo pronto e aprovado e perfeito. Na verdade deve ter uns 10 ou 11 meses, ou talvez 9, que a pesquisa começou de fato, e é evidente que eu não fiquei por conta disso esse tempo todo, muitíssimo pelo contrário, embora eu também não tenha sido assim tão relapsa.

É claro, vocês não têm nada a ver com isso, mas madrugada de sábado para domingo e eu aqui escrevendo e estudando adaptações. Que no processo eu "descobri" serem traduções.

Encontro agora uma frase de Alfredo Bosi que diz que "Aculturar também é sinônimo de traduzir". Não chega a se aplicar ao artigo em questão (vai por mim, o livro pode ter sido traduzido, mas nada ali foi aculturado, ou pelo menos não na adaptação cinematográfica. Embora eu consiga pensar em aculturações posteriores, mas aí já por parte dos leitores - também tradutores eles, como não? - e, bom, essa é só a segunda parte do artigo).

E é a maior besteira, eu sei, mas ando pensando que está tudo tão aculturado e, portanto, à exceção do objeto da mencionada pesquisa, tudo tão traduzido... Talvez seja quase natural perder-se nessa tradução eterna (e simultânea o tempo todo). E daí eu fico pensando em coisas estranhas que ocorrem, como pessoas que, com distúrbios neurólogicos, não sentem o corpo e não conseguem sequer mexer a mão sem olhar para ela, porque não há o sentimento de percepção, de pertencimento.


(OK, agora troquem suas bobagens. Eu inaugurei o lado bobo do blog, né. Acho melhor voltar a escrever bobeiras no meu artigo...)

Um comentário:

  1. Longe de ser o lado bobo, Maíra. Adorei, e como formada em letras-tradução (cof, cof) passei alguns anos pensando e repensando sobre essas perdas que ocorrem ao traduzir (seja de uma língua pra outra, de um livro pra um filme, de um texto para um leitor... tudo meio que obedece ao mesmo processo, como você disse). Perdas essas que os tradutores - ou os aspirantes a - tanto relutam em admitir. Porque, veja bem, ao mesmo tempo que se 'perde' um significado, ganha-se outro. Se melhor ou pior, depende de circunstâncias que por vezes escapam aos próprios tradutores. Às vezes penso que esse sentimento de perder-se - seja na tradução ou na vida - vem mais dessa falta de controle que temos sobre os resultados de qualquer mudança, qualquer adaptação. A ansiedade em ser traduzido também parece pesar nisso: vivemos entre pessoas que falam línguas diferentes, até dentro mesmo dos círculos mais íntimos, e que a todo tempo se esbarram nas traduções cotidianas e se perdem um pouquinho. Mas quando elas se acham e conseguem traduzir um novo e bonito significado, ah, poucas coisas são mais satisfatórias.


    (uh, superempolguei, falei demais. e nem sei se realmente 'traduzi' o que foi proposto inicialmente, hehe :))

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